terça-feira, 22 de novembro de 2011

Louras, nem tanto, mas legítimas e assinadas

Produção de cervejas artesanais é retomada em Juiz de Fora, que já foi polo de fabricação da bebida em Minas, pelas mãos de modernos cervejeiros que usam as velhas técnicas de elaboração

JUIZ DE FORA – Colonos alemães que chegaram a Juiz de Fora em 1858, contratados pela Companhia União e Indústria para a construção da primeira estrada pavimentada do Brasil, ligando a cidade a Petrópolis (RJ), trouxeram na bagagem o conhecimento da produção de cerveja. A atividade artesanal, que ganhou força com o fim da obra, ressurge com o mesmo vigor de outros tempos pelas mãos de modernos cervejeiros que usam as velhas técnicas para elaborar a bebida que é preferência nacional.

Segundo o Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral do Estado de Minas Gerais (Sindbebidas/MG), Juiz de Fora ocupa a segunda posição entre os municípios mineiros que mais produzem cerveja, perdendo apenas para Belo Horizonte. Atualmente, a cidade conta com uma microcervejaria e oito cervejarias caseiras. Juntas, elas fabricam, em média, 25 mil litros por mês, quase 25 vezes mais do que há cinco anos.

“Havia até certa rejeição e preconceito com a cerveja artesanal, pois acreditava-se que ela não tinha a mesma qualidade das demais. Mas, de dois anos para cá, a aceitação entre os consumidores aumentou, pois eles exigem outros sabores para combinar com pratos”, diz Pedro Peters, dono da Cervejaria Barbante, cuja produção foi retomada em 2007.
Peters é tataraneto do primeiro fabricante de cerveja de Minas Gerais. Fundada em 1861 pelo imigrante alemão Sebastião Kunz, a “linha de produção” funcionava na antiga Colônia D. Pedro II, então conhecida como Colônia de Cima, onde hoje fica o Bairro São Pedro.

“Nosso processo de cozimento é semelhante ao usado na época. A diferença é que, ao invés de arroz e milho, hoje empregamos malte e lúpulo, ingredientes aos quais os imigrantes não tinham acesso na época”, conta.

De acordo com Peters, na segunda metade do século XIX, a cervejaria, cercada por um belo bosque, se tornou um local de lazer e ponto de encontro de famílias alemãs que se reuniam e se divertiam cantando e dançando músicas tradicionais, enquanto degustavam diversos tipos de cervejas e apreciavam comidas típicas da terra natal.

“A herança de família é o principal fator que me fez retomar a produção”, conta Peters, que preserva vários documentos, fotos e ferramentas ligados à atividade. Curiosamente, o nome Barbante faz referência à técnica utilizada no passado para prender as rolhas e evitar estouros durante o processo de fermentação.

Antes de começar a comercializar a bebida, Peters ficou durante um ano e meio aperfeiçoando a técnica. Hoje, diz que dedica cerca de oito horas diárias para cada processo, que demora um mês para ser finalizado. A Barbante produz 1.300 litros mensais e cinco variedades de cervejas:pale ale, red ale, weiss, stout e índia pale ale.

Seis anos após a abertura da fábrica pioneira de Sebastião Kunz, os alemães criaram a segunda cervejaria de Juiz de Fora. A Kremer & Cia nasceu em 1867, no Morro da Gratidão, atual Avenida dos Andradas, em um terreno comprado da Companhia União e Indústria. A cidade chegou a contar com oito fábricas especializadas e, no fim do século XIX, foi considerada o principal polo cervejeiro de Minas.

Negócio rentável o ano inteiro

Os motivos que levaram à retomada da produção de cerveja em Juiz de Fora ultrapassam, muitas vezes, os vínculos históricos entre a cidade e a bebida. Cristiam Rocha, dono da marca Profana, precisava de um produto que atraísse a freguesia também no verão. Ele é proprietário do bar Boi na Curva, especializado em caldos que fazem sucesso principalmente no inverno. “Mas são produtos sazonais”, diz.

O empresário deu início à produção artesanal no andar de cima do bar, em 2007. De lá para cá, o volume fabricado saltou de 240 para 1.500 litros de cerveja por mês. “Descobri que é possível, e até mais provável, que a cerveja de alta qualidade seja a produzida em baixa escala, assim como vinhos e queijos”, ressalta. Rocha faz nove tipos de chope – a “cerveja viva”, ou seja, antes de ser pasteurizada.

Cristiam passou a investigar a fundo o tema, fez visitas técnicas a cervejarias consagradas e descobriu que existem 120 tipos da bebida. “O que as diferencia são fatores como temperatura de fermentação, levedura usada e quantidade de ingredientes, entre outros”, diz o fabricante que, em 2009, ficou em primeiro lugar em um concurso promovido pela Associação dos Cervejeiros Artesanais do Brasil (Acerva).

De aprendiz, o cervejeiro passou a mestre e agora se prepara para ministrar um curso para ensinar técnicas de fabricação artesanal da bebida a 60 pessoas.

Receita e talento herdados da vovó

Um livro de receitas que ganhou de presente da avó, chamado “Enciclopédia da vida – como fazer cerveja”, foi o que levou o administrador de empresas Pedro Scarlatelli de Souza, de 29 anos, a montar a Brauhaus (casa da cerveja) em Juiz de Fora. “Sempre tive esse sonho”, revela.

A Brauhaus funciona há um ano e meio. No local são produzidos de 800 a mil litros semanais de dez variedades: pilsen, oktoberfest, bock, irish red, staout, ipa, hefeweizen, belgian ale, dubbele A última tem 9,5% de teor alcoólico.

“É uma boa coincidência a retomada das cervejarias em Juiz de Fora”, ressalta o administrador que, entretanto, é descendente de italianos. Souza lembra que o renascimento das cervejas artesanais começou em São Francisco, nos Estados Unidos, há cerca de 30 anos. No Brasil, o recomeço veio graças à marca Baden Baden, de Campos do Jordão (SP), em 1999.

Um comentário:

  1. Legal amatéria . Não estou mais em Juiz de Fora mas fui um dos primeiros a fazer cerveja rsrs . Sucesso a galera ai Que porsinal fazem umas otimas cervas .

    www.mendesbier.blogspot.com

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