domingo, 2 de junho de 2013

Nova Lima vira polo cervejeiro e ganha primeira ‘cooperativa’

União de sete cervejeiros amplia produção de 300 litros para 12 mill no mundo

PUBLICADO EM 02/06/13 - por CRISTINA MORENO DE CASTRO, para Jornal O Tempo

Fabrício Bastos, Daniel Martins, Virgílio Barros e Ricardo Marques são alguns dos sócios

Era Dia de Tiradentes, 21 de abril, quando foi produzida a primeira “fornada” de 1.600 litros de cerveja da Inconfidentes Cervejarias Conjuradas – o nome não foi escolhido por acaso, como se vê.

Trata-se de uma receita inédita, que mistura os estilos belga e norte-americano, bolada pelas três microcervejarias – Grimor, Jambreiro e Vinil – que são sócias do empreendimento, para simbolizar sua união.

O modelo de produção da Inconfidentes também é inédito no Brasil. Funciona como uma cooperativa, mas não pode receber esse nome, porque, segundo a legislação, seria preciso haver ao menos 20 cooperados. No caso da Inconfidentes, são sete sócios, que trabalham num sistema “colaborativo”, para baratear os custos com o compartilhamento da estrutura da microindústria.

“É a primeira vez que cervejeiros caseiros criam esse formato para organizar o negócio. Já somos procurados por outros cervejeiros do Brasil inteiro para explicar como é o processo”, diz Paulo Patrus, 29, um dos sócios.

“O modelo é de grande valia e acreditamos que seja uma excelente saída para trazer mais produtores para o mercado formal”, diz Cristiano Lamego, superintendente do SindBebidas-MG.

Antes de se juntarem, as três microcervejarias alcançavam 300 litros por mês – com a Inconfidentes, esperam chegar agora a 12 mil, de seis estilos. O investimento inicial foi de R$ 800 mil.

A fábrica fica num galpão de 220 m² em Nova Lima (região metropolitana), cidade com quatro das 23 microcervejarias registradas em Minas, que está virando um polo à parte. “A prefeitura de Belo Horizonte não liberou o empreendimento. Já em Nova Lima, a própria prefeitura apostou que a cidade se tornaria um polo, e facilita”, diz Paulo.

Entre os sete sócios, há biólogos, dentistas, um engenheiro e um designer, e todos entraram no nicho por hobby. Até criarem a Inconfidentes, foram 18 meses de conversa e pesquisa. “O mercado está totalmente aberto. Minas vai virar o maior polo de fabricação de cervejas artesanais – e muito rápido”, aposta o sócio Ricardo Marques, 56.

A fábrica será inaugurada oficialmente neste mês, com venda das marcas em bares e casas especializadas, em garrafas e chope.


Minas é a ‘Bélgica brasileira’

Polo de microcervejarias e com grande variedade, Estado já é o segundo maior produtor do Brasil

A todo momento surgem novas microcervejarias em Minas; na foto, Ricardo Marques, um dos sócios da Inconfidentes, que fez sua primeira produção em 21 de abril

A tradicional pilsen, que era a única opção do consumidor de cerveja até poucos anos, hoje divide a prateleira dos mercados e bares com a stout, porter, weissbier, bock, ale e tantas outras. Em Minas, a diversidade e os troféus de premiações internacionais são tantos que o Estado passou a merecer o apelido, entre cervejeiros, de “Bélgica” brasileira, em alusão ao país europeu de grande tradição no produto.

Além da variedade, Minas é o segundo Estado produtor de cervejas especiais, em volume – atrás apenas de Santa Catarina –, segundo Cristiano Lamego, superintendente do Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral do Estado de Minas Gerais (SindBebidas-MG).

Ele diz que há hoje 130 microcervejarias registradas no país, sendo 23 (18%) em Minas, onde o nicho cresce a 20% ao ano. Responsável por fiscalizar o setor, o Ministério da Agricultura não diferencia as microcervejarias das grandes, como a Ambev, e diz haver 242 cervejarias registradas – nesse levantamento, Minas fica em quarto lugar.

“As microcervejarias encontraram um cenário propício para crescimento em função da procura do consumidor por produtos diferenciados e de alto valor agregado”, diz Lamego. A produção mensal atual é de cerca de um milhão de litros no Estado – e deve crescer ainda mais, com incentivos de prefeituras como a de Nova Lima, onde novas fábricas surgem a todo momento.

A Backer, por exemplo, pretende mais do que dobrar a capacidade de sua fábrica, no bairro Olhos D’água, na capital, dos atuais 1.900 m² para 4.000 m², até o fim do ano – a tempo da Copa do Mundo. Paula Lebbos, uma das sócias da microcervejaria, aplaude a expansão desse nicho no país, que hoje já responde por 5% de todo o setor cervejeiro.

Ela se lembra que, quando a Backer foi criada, há 15 anos, só havia a recém-surgida mineira Krug Bier e outras duas marcas com relevância no país. Ela começou com seis funcionários e seis tanques, para um produção mensal de 12 mil litros, e hoje possui 70 funcionários, 15 tanques e fabrica 270 mil litros de cerveja por mês. “O boom das microcervejarias nem aconteceu, vai acontecer daqui a um tempo ainda”, aposta Paula.

Luiz Vicente Mendes, diretor-comercial do Brasil Bier, concorda: “A tendência é crescer. Nos Estados Unidos, já são 4.000 microcervejarias e o movimento no Brasil só estava começando há seis anos, quando surgiu o Brasil Bier”.


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