segunda-feira, 11 de julho de 2011

Cervejarias mineiras inovam ao lançar versões com ingredientes brasileiros e inusitados - Estado de Minas

Graziela Reis - Estado de Minas
Publicação: 10/07/2011 07:14 Atualização: 10/07/2011 07:35

 
"O objetivo é inovar sempre. O caminho para as cervejas especiais é este" - Ana Paula Lebbos, diretora de Marketing da Backer
As louras geladas que me perdoem, mas as cervejas especiais mineiras estão dando um banho de ousadia na concorrência e, por isso, ganhando clientela cativa e destaque no mercado. O estado, terceiro no ranking brasileiro da bebida artesanal com oito fabricantes, tem sido reconhecido no país e mesmo em outras regiões do mundo. Receitas criativas e originais é que têm feito a diferença e levado à expansão dos negócios. Já pensou em provar uma cerveja com jabuticaba, açúcar mascavo ou capim-limão?

A Falke Bier, instalada em um condomínio de Ribeirão as Neves, na Grande BH, é exemplo de cervejaria mineira que está registrando bons resultados até o colarinho. Sabores diferentes, como o da Vivre, que chega ao mercado no fim do mês e tem gosto de jabuticaba, levaram os sócios da empresa a partir para a ampliação. “Não temos mais para onde crescer”, afirma Marco Falcone, sócio e cervejeiro da Falke. Ele já está procurando um novo terreno, também nos arredores de Belo Horizonte, e planeja investir cerca de R$ 1 milhão na nova planta.

Falcone calcula quadruplicar a produção, que hoje está em 12 mil litros mensais, assim que a nova cervejaria estiver funcionando. Na unidade antiga, inaugurada há sete anos, será concentrada a fabricação da Vivre, que vai ser vendida por cerca de R$ 200, e da Monasterium, também especial, já disponível para os apreciadores da bebida no mercado, e que sai por R$ 60, aproximadamente. Os preços, segundo Falcone, são justificados pelos diferenciais das receitas. Para ter ideia, a Vivre é feita com três grãos (malte de cevada, trigo e aveia). Depois de fermentada no tanque, ela é engarrafada e fica em maturação pelo período de dois a quatro anos, enquanto ganha acidez. Só após esse prazo que é retirada da garrafa e volta para o tanque, quando entram novos ingredientes: mais levedura e a frutose, que é da jabuticaba e confere o aroma e o sabor da fruta à bebida. “É uma cerveja no estilo sour ale and fruit bier e tem mesmo gosto de jabuticaba”, explica Falcone, que também é diretor do Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral do Estado de Minas Gerais (Sindbebidas-MG). A produção da Vivre, lançada nacionalmente durante a Feira Brasil Brau, em São Paulo, será limitada em 1,2 mil garrafas ao ano.

O chope Falke (pilsen, red baron e Ouro Preto) e as outras opções que já são oferecidas em garrafas (Ouro Preto e Índia Pale Ale Estrada Real) vão passar a ser produzidos na segunda planta da Falke. Outras novidades que vão entrar no cardápio da cervejaria até o fim do mês, junto com a Vivre – Diamantina (estilo bohêmia pilseler da República Tcheca), Vila Rica (estilo dry stout da Irlanda) e Estrada Real Weissbier (de trigo, alemã) –, também deverão ser direcionadas para a nova unidade da Falke.

Sabores diversos

As outras cervejarias mineiras especializadas no segmento premium, a Três Lobos (que produz a Backer) e a Krug (responsável pela marca Áustria), também não param de lançar novidades em estilos bem diferentes do seguido pela tradicional loura gelada, a pilsen produzida em escala mais comercial no país. Na Backer a criatividade impera. A cervejaria, que inovou ao lançar a Brown (cerveja com aroma de chocolate), agora prepara uma nova série, a Extreme, com opções no estilo americano – a Três Lobos (american pilsen com açúcar mascavo), Pele Vermelha (imperial india pale ale com raspas de laranja- da-terra), Exterminador de Trigo (wheat beer com capim-limão) e Bravo (imperial porter maturada em barris de umburana normalmente usados no envelhecimento de cachaça).

Segundo a diretora de Marketing da cervejaria, Ana Paula Lebbos, as novas versões chegam ao mercado no fim do mês e vão custar a partir de R$ 7. “O objetivo é inovar sempre. O caminho para as cervejas especiais é este”, afirma. Ela acredita que as cervejarias do estado têm se destacado porque acabam refletindo em suas bebidas a tradição mineira de bem receber e bem cozinhar. “As empresas daqui já chegam com um pé na frente”, reforça. Prova do que ela diz pôde ser conferida no resultado do South Beer Cup. A Pele Vermelha, antes mesmo de ser lançada, conquistou a medalha de bronze do campeonato sul-americano da bebida.

Hoje, são produzidos cerca de 180 mil litros de Backer por mês. Em 2010, quando a fábrica que fica no Bairro Olhos d’Água, em BH, recebeu investimentos de cerca de R$ 500 mil para expandir sua capacidade para 240 mil litros mensais, as vendas da cerveja cresceram 12,5%. Para este ano, a expectativa é manter o crescimento de dois dígitos, entre 10% e 15%.

Palavra de especialista - Paulo Schiaveto mestre-cervejeiro e consultor

Em busca do estilo nacional

“Vejo com muito bons olhos este movimento de inclusão de novos ingredientes nas cervejas produzidas em Minas. É a partir desse tipo de experiência que poderemos chegar a um estilo genuinamente nacional. Há muitos produtos, de frutas a madeiras, que podem ser acrescentados e resultar em novos sabores. A Vivre, de jabuticaba, é uma tripel com fermentação feita com bactérias lácteas. E é um pouco mais ácida, o que combina com a fruta. Ela tem um frutado típico, como se fosse um vinho de jabuticaba. A cerveja é realmente interessante. Esse tipo de experiência ousada agrega valor ao produto. Mais um ponto para a cervejaria artesanal mineira, que vem firmando sua força no mercado nacional por apresentar não só quantidade, mas também qualidade.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário