quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Reportagem da Folha de São Paulo sobre a explosão do movimento cervejeiro artesanal


Produção caseira de cerveja vira frisson em São Paulo

Nova-iorquino filho de napolitanos, Al Capone se tornou um dos gângsteres mais lendários de Chicago. E, por ironia, não foram os assassinatos que o levaram à cadeia.
Na primeira metade do século 20, tempo de Lei Seca nos EUA, meteu-se no contrabando de bebidas. A sonegação de impostos levou Al Capone à prisão.
Não só o mafioso fez malabarismos para driblar a lei que impedia o consumo de alcoólicos. As pessoas foram para o fundo de suas casas preparar ali drinques turbinados, com acréscimo de ingredientes que escondiam o gosto dos destilados clandestinos e... produzir cervejas.
Mas foi só recentemente que essa prática ganhou espaço (e até certo frisson) no Brasil, como mostra a expansão da Associação de Cervejeiros Artesanais.
Com acesso facilitado à matéria-prima e aos equipamentos para montar uma minifábrica básica, mais gente tem investido no hobby.
O especialista Eduardo Passareli, por exemplo, conta que recebe produtores caseiros semanalmente em seu bar, o Melograno, interessados em lhe mostrar bebidas.
Para a mestre-cervejeira e sommelier Cilene Saorin, têm surgido cada vez mais interessados que passaram a adotar essa prática. "Isso é, na verdade, um movimento gastronômico. Quem se propõe a fazer cerveja se mete na cozinha e coloca a criatividade em pauta", diz.
DO HOBBY AO NEGÓCIO
Gerada por um processo espontâneo da natureza, no qual cereais que entram em contato com a água podem ser germinados e submetidos à ação de levedos (fungos microscópicos) encontrados no ambiente, a cerveja é uma das bebidas alcoólicas mais antigas da humanidade.
Com registros de pelo menos 6.000 anos, quando a humanidade já cultivava cereais e os estocava, a cerveja hoje é a bebida alcoólica mais consumida no mundo.
E foi nos monastérios, durante a Idade Média, que ganhou força. Era equivalente ao pão --"uma das necessidades vitais", segundo "O Livro da Cerveja". "Fornecia calorias rapidamente e como era fervida, era uma bebida mais segura que a água."
A prática tem evoluído para o nascimento de negócios. Virou objeto de estudo de pessoas como Jaime Pereira Filho que, ainda recém-nascido, em 1951, já era ligado ao universo da bebida fermentada: um caixote de madeira de cerveja com lençóis e fru-frus bordados pela mãe lhe servia de berço.
No quintal do bar Pier 1327, em seu "beer garden", ele hoje ensina como preparar a bebida em casa.
Já Alexandre Sigolo e Rodrigo Louro, da Sinnatrah, pós-graduados em bioquímica, fizeram do hobby de produzir cervejas em casa --onde ocupavam a pequena cozinha com cacarecos "fabris"-- um braço da profissão.
Hoje, eles sustentam um espaço na Pompeia, onde produzem diferentes categorias da bebida e ministram cursos para os entusiastas.
Em fevereiro, aliás, está prometida a abertura de uma minifábrica de cerveja --cujo embrião estava no lazer, conjugada a um bar, a Cervejaria Nacional. Deve ocupar um imóvel em Pinheiros e servir bebidas próprias.
Por LUIZA FECAROTTA

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